Nathalie Ayres

Colaboração para o VivaBem

17/07/2021 04h00

Quando falamos em chá, logo vem à cabeça aquela infusão de erva ou fruta quentinha ou resfriada, bem aromática, não é mesmo? Pois saiba que se a bebida não for feita com a planta Cammelia sinensis, então ela não pode receber esse nome!

Existem sete tipos de chá, com diferentes processamentos, que dão origem a bebidas com diferentes graus de oxidação, entre outras diferenças. São eles: chá branco, chá amarelo, chá verde, chá oolong (ou azul), chá preto, chá escuro e chá violeta —a mais recente criação. “Fora esses sete tipos, todas as demais plantas preparadas em água quente são infusões”, explica Dani Lieuthier, sommelière de chá, pesquisadora e fundadora do Instituto Chá.

Mas sendo chá ou infusão, esse tipo de bebida faz parte do dia a dia de muita gente e seu consumo, apesar de saudável, pede cuidados. “É necessário ter cuidado ao afirmar que só temos benefícios, uma vez que existem situações que não são tão benéficas. Por exemplo, alguns chás podem conter compostos tóxicos ou, dependendo da forma como foi cultivada a planta, podem inferir em malefícios”, explica a farmacêutica e bioquímica Joceline Franco, professora do curso de farmácia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Para você não se perder e aproveitar bem o que as infusões e chás podem oferecer, tiramos as principais dúvidas sobre o assunto.

Quais os benefícios dos chás feitos com a planta Cammelia sinensis?

As principais substâncias encontradas nessas bebidas são compostos fenólicos: catequinas, flavonoides e cafeínas, atreladas à atividade antioxidante, com ações anti-inflamatórias e a que são atribuídas benefícios como fator anticancerígeno e retardo do envelhecimento.

“Por isso, acredita-se que eles tragam benefícios como aumento da resistência física, auxílio à regeneração da pele, fortalecimento da visão, estímulo ao bom funcionamento do fígado, ação vascular, melhora da cognição e ação no emagrecimento, TPM e ansiedade“, enumera a nutricionista e fitoterapeuta Maria Eneide Sette Carneiro de Morais, conselheira do Consea (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Município de João Pessoa).

No entanto, vale lembrar que isso só funciona com o consumo regular, ou seja, mais de uma vez na semana. Mas não adianta também consumir demais: “O consumo excessivo pode ser prejudicial em alguns casos, como por exemplo, o uso do chá verde que contém muita cafeína”, explica a farmacêutica Joceline Franco.

E quais os benefícios atribuídos às outras infusões?

Diferentes ervas e frutas possuem diferentes benefícios. Podemos dividir os chás nos seguintes grupos:

  • Diuréticos: cavalinha, hibisco, abacaxi, gengibre, cana-do-brejo, cavalinha, dente-de-leão.
  • Calmantes: camomila, erva-doce, erva-cidreira, capim-limão, alfazema, maracujá.
  • Estimulantes: verde, mate, nibs de cacau, preto, gengibre, canela e cúrcuma.
  • Digestivos: alcachofra, boldo, erva-doce, erva-cidreira, especiarias, chá escuro, hortelã.

Qual a forma correta de preparar um chá ou infusão?

Chás de ervas ou cascas de frutas são preparados da mesma forma: aqueça a água e quando as primeira bolhas de fervura aparecerem, acrescente os itens ao líquido e desligue o fogo. Deixe o recipiente abafado em temperatura ambiente. O tempo que as ervas ou cascas ficam na água pode variar, assim como a temperatura de infusão.

“Cada tipo de chá ou infusão requer um tempo e temperatura específicos. Em geral, 4 minutos é um tempo seguro para que o chá não amargue. Uma temperatura que sempre funciona é de 80 graus Celsius. Esse tempo também funciona para a maioria das infusões, que, se não forem ervas que amargam ou cascas de frutas cítricas, podem permanecer em contato com a água por até 7 ou 10 minutos”, diz Lieuthier.

A especialista indica 2 a 3 g de erva para 200 ml de água (1 xícara), no caso de bebidas quentes, e 4 g, no caso de chás resfriados.

Águas saborizadas também são consideradas infusões e podem ser preparadas colocando os pedaços da fruta na água fervida e resfriando por cerca de duas horas.

Qual o tempo de validade de um chá?

Ao preparar um chá, o ideal é consumi-lo assim que estiver pronto, pois depois disso a exposição à luz e ao ar pode fazer com que alguns nutrientes se percam —normalmente o mais sensível deles é a vitamina C. Mas, de modo geral, as especialistas entrevistadas destacam que você pode consumir uma infusão até 24 horas depois de seu preparo. Uma boa dica, ao resfriar, é tentar deixar a bebida ao menor contato com a luz possível.

Misturar muitas ervas em chás prontos ou feitos em casa pode ser ruim?

“Quando temos muitas plantas, é necessário que sejam tomados cuidados especiais, principalmente as misturas que estão relacionadas com o emagrecimento —o uso crônico e regular pode provocar problemas de constipação. Além disso, podem ter substâncias que interagem com algum medicamento que o indivíduo utiliza”, explica Franco.

Sette concorda: “É importante alertar sobre a interação entre os chás e medicamentos em uso. Algumas interações podem provocar sedação, depressão do sistema nervoso central, danos à bexiga e hemorragias”.

O ideal é consumir misturas de chás prescritos por um nutricionista ou nutrólogo, que indicará ervas mais relacionadas ao que você deseja tratar e levará em conta as características de cada uma delas.

Para não errar, Lieuthier indica duas misturas criadas por ela:

Massala Chai (estimulante): que mistura chá preto, gengibre, cardamomo, canela e cravo.
Blend Soneca (relaxante): que une camomila (1 colher de sopa), capim-limão (1 colher de chá), erva-cidreira (1 colher de chá) e casca de fruta cítrica (1 tira do cítrico de sua escolha), infusionadas em 400 ml de água a 100 ºC.

Tem diferença entre chás de ervas frescas e as versões industrializadas?

Normalmente as ervas frescas possuem mais óleos essenciais, enquanto as ervas desidratadas possuem uma validade maior. No final das contas, o mais importante é entender como a erva foi desidratada e se nesse processo foi adicionada alguma substância, como os aromatizantes e conservantes colocados em chás industrializados.

Por outro lado, usar a hortinha de casa para fazer chás nem sempre é 100% confiável. “Não existe a certeza de que aquela planta é de fato a que desejamos e não se sabe quais os tipos de animais que passeiam pelo local que podem contaminar com bactérias e fungos (e muitas vezes a planta não é lavada)”, diz Franco.

Outro ponto sobre os chás industrializados é que eles costumam perder seus compostos bioativos. “Eles apresentam menor concentração desses compostos em comparação aos chás preparados a partir das folhas ou mesmo dos chás de saquinhos, e vale ressaltar que muitos levam uma quantidade relativamente alta de açúcares e alguns aditivos alimentares como conservantes”, explica a nutricionista Clarissa Hiwatashi Fujiwara, membro do Departamento de Nutrição da Abeso (Associação Brasileira do da Obesidade), coordenadora de nutrição da Liga de Obesidade Infantil do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Qual a quantidade ideal de chá para consumir ao dia?

O ideal é não ultrapassar o consumo de dois litros de chá ao dia e não ficar consumindo a mesma erva todos os dias da semana. Como as indicações variam conforme a planta, o ideal é buscar ajuda de um nutricionista.

Qual o melhor horário para consumir chás?

Depende do benefício: calmantes são melhores durante a noite, enquanto os estimulantes devem ser tomados de dia. Já os digestivos são bons logo após as refeições.

 

FONTE: UOL (Clique e veja a matéria original)